PT não elege prefeito nas capitais
Por causa de tudo que o PT fez e/ou deixou de fazer, é muito complicado convencer o eleitorado a votar no partido.
Pela primeira vez em 35 anos, o Partido dos Trabalhadores não elegeu nenhum prefeito nas capitais. O mais competitivo partido de esquerda nas eleições presidenciais vem definhando na disputa eleitoral dos municípios a cada quatro anos. O que ocorre?
É um processo contínuo. 2016 foi um ano desastroso para o PT e para a esquerda. Foi ano do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que fez um governo ruim, enfiando o país numa crise econômica. E, claro, havia escândalos de corrupção do partido sendo investigados pela polícia e explorados pela mídia hegemônica. O partido ficou desmoralizado.
Desmoralização que, inevitavelmente, influenciou as eleições municipais. No infame ano de 2016, o PT só elegeu um único prefeito nas 26 capitais: Marcus Alexandre, em Rio Branco, no Acre. Ele renunciou ao cargo em 2018, para tentar a sorte na eleição para governador. Foi derrotado. Ou seja, o PT está sem prefeito nas capitais há dois anos.
Ao administrar o executivo, o candidato/partido é colocado à prova, pois terá a oportunidade de se mostrar atraente à população. Se fizer boa gestão, tem alta probabilidade se eleger novamente, porque a eleição funciona também como um plebiscito que julga os últimos quatro anos do governo. Todavia, o PT estava (e ainda está) sem nenhum prefeito nas capitais. Como poderia, de forma concreta, se mostrar atrativo para o eleitorado? É uma evidência de que a tragédia do petismo é uma continuidade de pleitos eleitorais anteriores.
Tomemos, por exemplo, Salvador em 2018, no segundo turno das eleições presidenciais. De todas as capitais, o candidato Fernando Haddad (PT) teve sua vitória mais expressiva sobre Jair Bolsonaro nesta cidade. O que indica que o petismo tem força na capital da Bahia. Mas nas eleições municipais de 2020, o candidato do DEM teve vitória acachapante sobre o PT. ACM Neto conseguiu eleger facilmente um sucessor, porque os seus oito anos de governo são muito bem avaliados pela população soteropolitana.
Se o DEM baiano fizesse uma má gestão (segundo a população), provavelmente Salvador seria do PT. É a capital do antibolsonarismo e ACM Neto conseguiu se descolar do presidente da República (principalmente por conta de divergências de gestão durante a pandemia), apesar do apoio em 2018. Sem seu principal adversário na polarização nacional, o PT não teve como se fortalecer até o triunfo.
Sabemos, portanto, que a boa avaliação da gestão no executivo municipal gera significativas probabilidades de reeleição ou de manter o mesmo partido no poder. Mas e a boa avaliação do governo federal? Como ela influi na eleição para Prefeitura?
Em 2008, quando o governo Lula chegou a 70% de aprovação, segundo o Datafolha do mesmo ano, o PT conseguiu eleger seis prefeitos nas capitais. Não vou dizer aqui que se trata necessariamente de uma causalidade. Em 2004, Lula tinha 45% de aprovação e 9 dos prefeitos eleitos nas capitais eram petistas.
No entanto, em 2016, como eu disse, o ruim governo Dilma (e a consequente baixíssima aprovação) colaborou no fracasso petista das eleições municipais, apesar de não ser o único fator. Neste ano, pesquisas apontam que Bolsonaro está na faixa dos 40% de aprovação (parte dela oriunda do auxílio emergencial). Porém candidatos abertamente apoiados pelo presidente não tiveram êxito nas principais cidades. O derrotado prefeito Marcelo Crivella, por exemplo, teve apoio bolsonarista, contudo sua gestão é extremamente criticada. Há quem o considere o pior prefeito da história do Rio de Janeiro.
A avaliação positiva do governo federal tem influência na eleição municipal somente na forma de marketing. Com o candidato usando da imagem do presidente (ou partido) correligionário e bem avaliado. Entretanto, se o adversário for um incumbente também bem avaliado, a boa imagem do governo federal pode não ser suficiente.
Outrossim, se o prefeito apoiado por um presidente bem avaliado estiver fazendo uma péssima gestão, muito dificilmente se reelege.
De qualquer maneira, o PT perdeu em 2018 e, portanto, não poderia se aproveitar do desempenho na gestão nacional para tentar conquistar prefeituras (e se ganhasse a eleição presidencial, Haddad teria que fazer um bom governo, o que não seria nada fácil).
Verdade que o desastroso governo Bolsonaro ajuda os adversários, mas esta ajuda não se concentra no PT, pois a sigla do ex-presidente Lula não é a única oposição ao bolsonarismo.
Sem convincentes argumentos concretos para aparecer atrativo à população, só restou ao petismo nada além da conjectura (promessas), das lembranças do passado e da tentativa de desmoralização dos adversários. Mas por causa de tudo que o PT fez e/ou deixou de fazer, é muito complicado convencer o eleitorado (até mesmo o de esquerda, como foi visto em São Paulo) a votar no partido.
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Todo poder emana do povo. continuar lendo